segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Manuke FPS - Capítulo 01

Volume 1 — Capítulo 1

— Nngh... ugh...

Acordei sentindo um leve frio na bochecha e a grama sob a palma da mão. Lentamente, abri os olhos.
O que vi era um cenário completamente diferente da localização do “Jardim Celestial”.

— Onde estou...? Será que eu caí numa área secreta?

Veja bem — normalmente, no “Jardim Celestial” você fica em um dos ilhas flutuantes. Se tiver o azar de cair de uma delas, ativa-se a “regra da morte instantânea”, e você é mandado de volta pro lobby.
Mas, por algum motivo, eu acordei desacordado em um campo aberto, sentindo uma brisa suave passar.

— Nunca ouvi falar de ninguém que tenha vindo parar em um lugar assim... Hm, vento?

Enquanto pensava, comecei a observar o ambiente.
O sol já havia passado do zênite e, no céu, não havia nada que lembrasse as ilhas flutuantes do “Jardim Celestial”, apenas nuvens vagando lentamente.
A grama se movia com o vento. E foi aí que notei algo estranho eu podia sentir o toque do vento, o frio do solo... Mas no VMB nunca houve qualquer tipo de sensação tátil.

— Então... isso não é o VMB? Não, espera...

A ideia me atravessou por um segundo, mas logo a descartei ao olhar para mim mesmo.
Meu corpo era o do meu avatar do VMB, com todo o meu equipamento: a MP5A4 que eu havia usado recentemente, três carregadores presos ao cinto, uma arma reserva no coldre, granadas, uma faca e o sistema de Suporte Tático (Tactical Support System, ou TSS) integrado à luva da minha mão esquerda.

Ativando o visor sensorial, o holograma do menu apareceu normalmente.
Mas logo surgiu outra anomalia as abas “Notícias” e “Correio” exibiam apenas a mensagem “Erro”. E, quando tentei sair do jogo... nada aconteceu. O sistema não respondeu.
(Nota do autor: Ei, sem críticas, tá? Depois de Kawahara e SAO, eu sei que esse tipo de começo parece clichê... mas fazer o quê?)

O mapa, integrado aos meus óculos, mostrava apenas a minha localização.
O contador de cristais estava normal, o “Loja” parecia funcional dava pra comprar armas, munição e equipamentos. Até o suporte aéreo de armas estava disponível.

— Mas ainda é estranho não haver comunicação... Talvez o sistema bloqueie os contatos enquanto se explora uma área secreta? Bom, de qualquer forma, não há nada que eu possa fazer por enquanto. Melhor seguir em frente.

No VMB, completar áreas comuns rendia cristais, mas limpar áreas PvE secretas podia te dar armas exclusivas, indisponíveis na loja.
Pra ser sincero, era por isso que eu me interessava tanto por PvE talvez até um pouco obcecado.

“Seguir em frente”, eu disse... mas pra onde, exatamente?

Olhei ao redor. Nenhum marcador, nenhum ponto de referência.
O mapa mostrava apenas uma pequena área ao meu redor.
A oeste e ao sul, o campo continuava sem nada; ao norte, uma floresta; e a leste, montanhas.

— Certo... o oeste e o sul parecem vazios. As montanhas raramente têm batalhas. Então, por eliminação... norte.

Como eu não sabia nada sobre o local, também não tinha informações sobre os inimigos.
O mapa só poderia marcar hostis com ícones vermelhos, e nada mais.

Ajustei a MP5A4 para disparos em rajadas de três tiros e segui rumo à floresta, movendo-me com leveza graças ao exoesqueleto.

Durante a travessia do campo, não encontrei nada.
Mas ao adentrar a floresta, algo novo chamou minha atenção.

Enquanto corria, não tinha notado nada no chão mas ali, entre as árvores, vi pequenos insetos, vagando de um lado para o outro.

Insetos?  No VMB, não existiam insetos.
Mesmo nos mapas “naturais”, como florestas e campos, só havia jogadores ou mobs hostis. Insetos NPC? Nunca existiram.

— Então... é ou não é o VMB? Meu equipamento é do jogo, mas que lugar é esse, afinal...?

A pergunta se perdeu no som do vento entre as copas das árvores.
Sem ninguém para responder, apenas apertei o punho em torno da MP5A4, sentindo o peso frio do metal. Ela deveria pesar uns três quilos, mas agora parecia mais pesada.
Meus óculos também algo que eu nunca havia sentido antes.

Desativei os filtros e as telas virtuais, vendo o mundo com meus próprios olhos.
As cores, os contrastes... eram reais.
Sem dúvida alguma, isso não era o mundo do VMB.
O TSS continuava inerte sem resposta.

Enquanto pensava, percebi um movimento à frente.

— Inimigo?!

Reflexivamente, me escondi atrás de uma árvore, corpo agindo antes do pensamento.
Com a mão trêmula, toquei o controle dos óculos, desligando completamente suas funções.

Mantive os olhos fixos na direção do movimento, até distinguir três figuras humanoides a uns 200 metros.

— Humanos...? Jogadores?

Três formas.
Mas algo nelas me incomodava.
Eram totalmente carecas, e vestiam apenas... tangas?
Aumentei a transparência dos óculos e ativei o mapa, deslocando-me silenciosamente de árvore em árvore para observá-los melhor.

“Ei... isso não são... goblins?”

De perto, vi melhor pele esverdeada, orelhas enormes, cerca de 1,20 m de altura.
Carregavam bastões toscos, como porretes.

Com certeza, não eram humanos.
E no VMB... nunca houve inimigos assim.
Goblins. Era o único termo que fazia sentido.

“Mas onde diabos eu vim parar...? E, mais importante... como eu saio daqui?”

Não havia dúvida: aquilo não era minha realidade.
Enquanto seguia furtivamente o grupo, meus pensamentos giravam em círculos.

“Isso não é mais engraçado... Não pode ser a Terra, certo? Fui teletransportado pra outro planeta? Ou é viagem no tempo?
Não... goblins nunca existiram na Terra. Então... outro mundo? Nem real, nem virtual... mas outro mundo mesmo?”

Sim, eu gostava de jogos, animes e light novels.
Gostava muito.
Mas sempre fui mais fã de FPS.

“Eu... fui transportado para outro mundo? Isso é possível? Eu estava jogando uma VRMMO, não estava?”

Nos últimos tempos, esse tipo de história “transportado para outro mundo”  tinha virado moda nas light novels.
Eu li algumas. Até joguei umas VRMMOs com essa temática.

Mas uma coisa era certa:
isso não é o VMB.

“Será que é um VR-RPG ocidental? Um mundo de fantasia com espada e magia...? Um herói invocado em outro mundo?”

Uma situação mais absurda que a outra.
“Transportado para um mundo de espadas e magia... com uma submetralhadora nas mãos.”

Sorri amargamente.
“Bem, se existir magia aqui, outros podem ter armas também. Eu preciso pensar em como lidar com isso...”

Continuei seguindo os goblins por cerca de meia hora, resmungando sozinho, até ouvir o som de água corrente.
Ou melhor  água caindo.
Um pouco mais adiante, entre as árvores, vi uma cachoeira.
Não muito larga, mas alta, uns dez metros, talvez.
Os três goblins entraram em uma abertura por trás da queda d’água uma caverna, aparentemente.

“Mas o que é que eu tô fazendo...”

Pensei, tenso.
Devia ser o covil deles.

Um lugar ao qual eles chamavam de lar...
E eu?
Onde seria o meu?

Fiquei parado, sem saber o que fazer.
Voltar para meu mundo? Como?
Ou talvez... tentar viver aqui?
Mas fazendo o quê? Onde?

Esses pensamentos me consumiam enquanto eu observava a entrada da caverna, sozinho.

Página anterior § Menú inicial § Próxima página