segunda-feira, 22 de setembro de 2025

O Mestre do Ragnarok - Prólogo

Prólogo

No Santuário Tsukimiya existe uma certa lenda.

Dizem que o espelho sagrado guarda um poder misterioso.
Dizem que sua verdadeira identidade é, na verdade, aquele venerável espelho.
Dizem ainda que, se alguém olhar para ele em uma noite de lua cheia através de um jogo de espelhos, será conduzido a outro mundo.

Trata-se de uma lenda urbana banal, como tantas outras.
Histórias de que, ao fazer um jogo de espelhos e recitar encantamentos, um demônio aparece, ou que se pode ver o futuro e o passado, ou mesmo ser lançado a outro mundo… narrativas assim existem em toda parte.
A estranha sensação de olhar por um caleidoscópio, como se mundos infinitos se abrissem diante dos olhos, certamente já inspirou esse tipo de imaginação em muita gente.

Na verdade, a tal lenda não passava de um rumor espalhado entre os estudantes da escola Yao. Não era uma tradição antiga transmitida pelas gerações do santuário.
Na verdade, esse boato surgiu exatamente para criar situações como a que acontecia agora.




— Y-yuu-kun, Yuu-kun! Vamos parar com isso! —Com lágrimas nos olhos, uma garota puxava insistentemente a manga do colega ao seu lado, falando com uma voz trêmula de medo.

O coração de Yuuto bateu mais forte. Ser olhado com olhos marejados por uma menina despertava nele, inevitavelmente, o instinto de protegê-la.

Seu nome era Hoshino Mizuki, sua amiga de infância um ano mais nova, aluna do primeiro ano do ensino médio. Uma garota simples e adorável, com grandes olhos brilhantes, a imagem perfeita de uma filha do interior.

— Ora, ora… chegamos até aqui e você vem falar isso? — Yuuto suspirou, encolhendo os ombros.
O vento agitava as árvores, e os sons dos insetos ecoavam ao redor. Nas moitas, a escuridão parecia querer engoli-los.

No meio da montanha, apenas a luz da lua cheia e das estrelas iluminava vagamente o pequeno santuário, velho e em ruínas.

— Vai ficar tudo bem. Os que vieram antes de nós voltaram sem problema, não voltaram?
— M-mas, mesmo assim… 

Mizuki apertou ainda mais a manga dele.
Ela era sempre cheia de energia e sorriso radiante como um girassol, mas Yuuto sabia muito bem que, desde pequena, ela não suportava histórias de fantasmas.

Esse teste de coragem, afinal, fora originalmente planejado como uma atividade recreativa para aproximar os colegas de Mizuki. Yuuto, um ano mais velho, só estava ali porque ela, tão medrosa, acabara sendo arrastada e, consequentemente, arrastou-o junto.

No fim, Yuuto acabou alvo das provocações dos colegas do ano dela e, embora tivesse ficado vermelho de vergonha, não pôde dizer que se sentiu mal com isso.

Desde pequena, Mizuki sempre recorrera a Yuuto sempre que algo acontecia.
Quando estavam nos primeiros anos do primário, ele achava isso adorável, como se tivesse ganhado uma irmãzinha.

Mais tarde, nos últimos anos do fundamental, os amigos começaram a caçoar os dois, e Yuuto, incomodado, passou a rejeitar Mizuki de propósito.

Mas, ao chegar ao ensino médio, seus sentimentos mudaram novamente. Ele passou a achar reconfortante ser procurado por ela… e agora, no segundo ano, até desejava ser ainda mais.

E já percebia o motivo disso.



— Se está com tanto medo, fica aí um pouco afastada. Eu vou lá rapidinho e termino isso. —

Yuuto soltou, de forma um tanto brusca, a mão de Mizuki de sua manga.
Um pouco de culpa lhe pesava, mas não suportaria que os colegas o chamassem de covarde. Além disso, queria mostrar-se corajoso diante dela.

— Certo… 

Ele se agachou e empurrou devagar as portas do santuário.

Dentro, havia um espelho redondo e enferrujado, ainda mais degradado que o próprio santuário. Chamá-lo de espelho já era forçar. Tão sujo e embaçado estava que mal refletia o rosto de Yuuto.

Ele suspirou, decepcionado.

— Hã… que coisa mais tosca.
— Y-Yuu-kun!? Não fala assim, vai acabar atraindo castigo!
— Mizuki, você se preocupa demais… Mas, só tirar a foto assim não vai ter graça. 

Yuuto tirou o celular, pensando.
A regra do teste de coragem era registrar em foto o espelho do santuário, como prova de que realmente chegaram até ali. Mas Yuuto queria fazer algo além, algo que mostrasse superioridade diante dos colegas.

— Ei, o que você vai fazer!? — gritou Mizuki, apavorada.

— Hm? Estava pensando em tirar uma selfie com o espelho atrás. Aliás… isso até pode ser chamado de “jogo de espelhos”, não?

— P-para com isso! Se você for parar em outro mundo, eu… eu…!
— Não seja boba. Isso é só uma lenda urbana…

(For oss segern)

— Hã!? 

Uma voz estranha ecoou em sua mente.
Não era japonês. Nem inglês. Um idioma totalmente desconhecido. Ainda assim, parecia chamá-lo.

(Gud, segern till oss!)

Outra vez a voz soou, mais nítida, de uma jovem.

— O… o quê? 

No instante em que se virou, uma tontura avassaladora o atingiu.
Sua visão turva captou os dois espelhos brilhando, sobrepondo-se e separando-se, como um caleidoscópio.

E, atrás de um deles, surgiu a silhueta de uma garota.
Ela dançava em transe, com roupas brancas de sacerdotisa que esvoaçavam suavemente.

— Mas… o que é isso!? 

Yuuto esfregou os olhos, mas a visão não sumia.
Pelo contrário: a imagem da garota ganhava nitidez, cor, textura.

— Yuu… kun… 

A voz de Mizuki soou distante, quase inaudível.
Ele se virou de repente e congelou.

Mizuki havia desaparecido.
No lugar, erguia-se uma parede branca coberta de pinturas: figuras humanas, mas também monstros horrendos, meio homens, meio feras.

— Mas… que lugar é esse!? 

Antes que pudesse entender, percebeu murmúrios ao redor. Muitas pessoas.
Mas como? Estavam em uma montanha, de madrugada!

Yuuto piscou várias vezes. Agora estava, sem dúvida, dentro de um grande salão, semelhante a um ginásio. Homens de rostos ocidentais, com roupas simples de linho, o cercavam, olhando-o com espanto.

— Será que entrei em uma filmagem de cinema? …Aquele espelho!? 

No altar ao fundo estava um espelho idêntico ao do santuário, só que brilhante e bem cuidado.

"Na noite de lua cheia, quem olha pelo espelho sagrado será levado a outro mundo…"

A lenda do santuário relampejou em sua mente.

— N-não pode ser… isso é impossível…
— Vem är du!? 

Uma voz firme, em idioma incompreensível, soou e uma espada dourada encostou-se à sua garganta.

Chocado demais, Yuuto não conseguiu falar. Mesmo que conseguisse, duvidava que o entendessem.

Seguindo a lâmina com os olhos, viu dedos finos e belos, depois longos cabelos prateados que cintilavam.

Era uma garota de beleza incomparável, como uma valquíria saída de uma lenda.
Tinha mais ou menos a idade de Yuuto, talvez um pouco mais velha. Sua beleza gélida lembrava uma escultura de gelo.

Ele ficou sem fôlego, simplesmente hipnotizado.

Sem imaginar que, a partir dali, um destino cruel e extraordinário o aguardava.